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domingo, junho 18, 2006

Passando uma noite...

Ver aquela nuvem a passar, a mover-se, lentamente, da esquerda para a direita, tornou-se no meu passatempo favorito desta noite...
Começa a aparecer, bem lá no fundo, bem longe, aquela lua, uma lua que quis só minha... Hoje parece-me tímida, não quer falar muito comigo. Tudo bem, assumo a derrota e fico aqui a olhar.... A brisa parece querer vir dizer-me boa noite, parece querer sentar-se ao meu lado e ficar a assistir, comigo, ao nascer de mais um destes dias. Calma, reparo agora, enquanto olho para este lado, o direito, que brilha, ali, uma estrela! Ah! Vejo, ali, mais uma!.. A luz da cidade quer tornar esta noite numa noite tímida... "Ela vestia sempre preto." ... "o mesmo recato..." ... Desvarios, embalados pela hora, tardia, que vai passando, lentamente, nos ponteiros daquele relógio. Esta noite quis estar sentado ao teu lado, partilhar contigo este momento! Não sei onde estás agora, não sei se vês a mesma lua que eu... Acho que agora, neste preciso instante, não quero saber mais! Consigo ouvir claramente o som deste comboio que passou agora, bem lá longe… Incrível! Neste preciso momento senti uma imensa vontade de sair a pé, de passear por estes telhados até encontrar o sítio ideal, até puder ficar sentado a ver o dia nascer. Como eu tenho saudades de ver um dia nascer! Recordo-me, agora, da última vez que o vi… Estava tão cansado, tão dominado pelo sono e pela vontade de abraçar a cama que não fui capaz, se quer, de olhar em frente, de sorrir… Lembro-me, apenas, de dizer algo parecido com “Ei…agora já podemos ir dormir!..” … Bem, o tempo vai passando, leva com ele a minha primeira frase, a minha primeira visão. Se olho, simplesmente, para o lado direito, já não vejo a lua nem as estrelas, já só vejo o preto avermelhado pelas luzes que estacam nas ruas…

A musica acabou… Já não sinto de vontade de a ouvir mais uma vez...

Vou dormir.

...

3 comentários:

Anaphy disse...

"Ela trabalhava numa casa de alterne.
Ele alternava as noites entre casa e casas de putas.
Ela vestia sempre preto. Ele achava o preto deslocado.
Uma noite sentou-se na mesa dela. Ofereceu-lhe uma bebida e um sorriso.
Ela aceitou a bebida. Hesitou no sorriso.
Aceitou.

Procurou-lhe os olhos. Ela baixou-os.
Ele gostou.
Ele não falou. Ela nada disse.
Olhava-a.
Ele ficou na mesa dela toda a noite. Lendo, interpretando o silêncio. Os gestos pudicos, o negro da roupa.
O recato numa casa de putas.

No fim da noite ela saiu sem lhe perguntar se a queria. Simplesmente, levantou-se e saiu.
Ele voltou na noite seguinte e todas as noites.
A noite dele a mesa dela. O dia dele a espera da noite. A espera dela.

Uma noite ele estendeu-lhe a mão. Saíram.
Na rua falou dele. Falou dela.Falou na casa que era dele onde uma estranha habitava. Não ela.
Falou no lugar que era o dela. Ela não pertencia ao lugar.
Não era o lugar dela.
Tão diferente o preto que ela vestia da cor do lugar. Tão diferente o silêncio dela dos sorrisos falsos, das palavras abundantes e ocas. Tão diferente o recato, o pudor nos olhos baixos, da luxúria, da oferta do corpo no lugar.

Ela apertou-lhe a mão como se só ele entendesse.
Ele sentiu-se único e responsável.
Ela fez amor com ele como se o amasse.
Ele fez amor com ela amando-a.

Ele deixou de alternar entre casa e casas de putas.
A noite, o bar, a mesa dela, casa única.

Uma noite ele assumiu perdas e derrotas, impotência e exageros.
Disse-lhe: - Vem viver comigo.
Ela apertou-lhe a mão.

Nessa noite não pegou, como todas as outras noites, no dinheiro que ele pousava ao lado da mala. Como se não existisse compra. Como se nunca tivesse havido venda.
Fez amor com ele como se o amasse.
Ele fez amor com ela amando-a. Chamando-a sua.

No dia seguinte esperou-a no quarto feio e frio a que chamava agora lar.
Ela não chegou.
Esperou-a mais um dia e uma noite. No outro lado do telefone o silêncio.

Procurou-a. A mesma mesa. O mesmo vestido preto. O mesmo recato.
Outro homem.
Agarrou-a por um braço. Gritou-lhe dor e amor. Declarou-se perdido, a culpa dela.

Alguém o expulsou da noite, do bar, da mesa, da vida dela.
Alguém lhe disse rindo:
- É a melhor puta da casa."

Desvarios? Nao sei... acho que já nao sei o se passa dentro de ti! Nessa tua distancia, que nao posso criticar e a que me obrigo a compreender!
Da noite de ontem, nada sei... nao vi a lua, nem as estrelas, nem as nuvens... vi a minha cama, que esperava ha dias, que eu seiplesmente deitasse e dormisse! (mas tu tb disseste que nao querias saber mais)
Mas sei do dia de hoje... sei da solidao de que me voltou a trazer, da tristeza que parece tao incontrolável... da vontade de sair, sozinha, ir para uma praia qualquer... ficar sentada a ouvir musicas, musicas que eu nao possa associar a nada, nem a ti, nem a ele, nem a ninguém! Musicas que me deixem livre de ter que pensar, livre desta tristeza, disto... que me faz ter este nó na garganta!
O sol, o calor, esta casa... é como se tudo hoje me prendesse!aqui, aos livros...
sinto falta de me sentir, das minhas certezas, de algo certo, nem que fosse, a boa nota do exame de amanha (que sei, nao irá ser tao boa quanto isso)!
beijo

J.Lima disse...

temos pena...a lua ja tem dona...e para sempre vai ser dela,porque numa certa tarde eu lha prometi e nada o vai mudar... mas tambem eu keria vaguear pelos telhados,pelo predio mais alto do mundo, fikar o mais proximo possivel da lua...e daquela a quem a prometi...banhar-me na sua luz,numa noite perfeita,onde nada pudesse interferir...onde fosse so eu,a lua...e uma certa prometida..

Anaphy disse...

LUAR DE VERÃO

"O que vês, trovador?—Eu vejo a lua
Que sem lavor a face ali passeia;
No azul do firmamento inda é mais pálida
Que em cinzas do fogão uma candeia.

O que vês, trovador?—No esguio tronco
Vejo erguer se o chinó de uma nogueira.
Além se entorna a luz sobre um rochedo
Tão liso como um pau de cabeleira.

Nas praias lisas a maré enchente
S'espraia cintilante d'ardentia
Em vez de aromas as doiradas ondas
Respiram efluviosa maresia!

O que vês, trovador?—No céu formoso
Ao sopro dos favônios feiticeiros
Eu vejo—e tremo de paixão ao vê las—
As nuvens a dormir, como carneiros.

E vejo além, na sombra do horizonte,
Como viúva moça envolta em luto,
Brilhando em nuvem negra estrela viva
Como na treva a ponta de um charuto.

Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno me vaporoso, e só de ver te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono."

Alvares de Azevedo

P.S-achei que gostarias...ando viciada na poesia dele!