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quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Carta (parte II).

(...) A Carta (parte I)

"Sei que me faltaram as palavras para ser sincero contigo e para te dizer o quão arrependido estava, por ter tomado aquela decisão que, quer queiramos, quer não, afectou, de tal forma, a nossa vida que, agora, me vejo obrigado a escrever-te esta carta, de tão longe!.. Longe de mais! Não consegues imaginar, certamente, a batalha que se travou dentro de mim, durante aquelas horas, durante aquele reencontro. Faltou-me tudo: a coragem, o sorriso, o olhar, o abraço, o calor do teu beijo… Faltaste-me tu!.. Senti-te tão distante que me vi obrigado a comandar, sozinho, aquele exército de emoções, que se apoderava do meu coração.
A cavalo, percorri as fileiras daquele batalhão de sentimentos, corroídas pelo desânimo, pela tristeza e pela insegurança, fruto daquela fatídica tarde, em que decidimos, os dois, ser cúmplices de uma mentira e de um elogio à hipocrisia deste maldito Mundo, que para nós, apenas se tornou no campo perfeito para esta batalha que, agora, se trava dentro de mim!.. Sempre te disse que não acreditava em nada mais do que na Força do Homem e na sua Convicção. Sempre soubeste que, para mim, tudo esteve nas nossas mãos: o puder de decidir, de sentir, de amar e de sermos um uníssono de paz e alegria. Cavalgamos, sempre, paralelamente. Erguemos as espadas e dirigimos os melhores Elogios à Força e ao Amor. Sempre quisemos ser um só Ser! Nunca me neguei a dar-te tudo o que tinha! Fomos felizes, enquanto éramos só nós, enquanto vivíamos afastados desta praga que nos assola a todo o momento.
Sabes bem que a minha decisão de partir nesta viagem não devia ser mais do que a busca de algumas respostas sobre o que nos levou àquele desespero naquela tarde!.. Por incrível que te pareça, vejo-me, agora, à procura de muito mais do que isso! Mais do que um cliché, é a verdade, sinto-me à procura do meu próprio ser, da minha própria existência!.. Depois de ti, senti-me tão vazio e tão só, eu, que sempre fui tão activo e tão desligado de todas estas questões, vejo-me, agora, obrigado a reconsiderar todos estes anos passados a viver o paradoxo em que se tornou a minha vida!.. Se por lado acredito que ela ganha todo o sentido e atinge o seu expoente máximo, apenas contigo ao meu lado, pelo outro, sinto que, agora, estou à procura de algo mais, algo que, talvez, esteja demasiado longe, ou demasiado perto, que me possa trazer alguma outras resposta, para a qual ainda não me senti preparado a formular uma derradeira questão… (…)

Nuno Rocha

2 comentários:

Anaphy disse...

A forma inebriante como escreves, invade e transporta... faz ter sede de ler mais, de ir mais além, de conhecer cada vez mais um pedacinho dessa vida tão estranhamente paralela de sentimentos cúmplices e iguais aos de tantos de mais...
Parabéns, não pares de escrever, não deixes que essa fonte de água seque e com ela morram de sede os que bebem estas tuas letras tão sofregamente como eu o faço!
Beijo
Filipa

Anónimo disse...

Numa só palavra? (aquilo que me custa tantas vezes fazer)

Sufocante.

No bom sentido.

O sufoco momentâneo dos momentos levados ao rubro, no embalo louco de uma emoção qualquer... Este texto tocou-me exactamente aí, nesse sítio, onde moram as emoções quaisquer, que nao sei definir, de uma forma (já disse) sufocante, embriagante (- embriaguez de emoções...). Parabéns! Fica a expectativa do que ainda não veio.

Engraçado cmo as palavras "exército", "corroídas", "fatídica", "decidir", "praga", "hipocrisia", "só" soam tanto a felizmente há luar... Engraçado como transportam para mim as emoções que vivo no palco - há "textos que obrigam todos os outros textos a reverem-se por dentro", simplesmente porque têm este "quê" de especial - a capacidade de, passivamente, despertar um pouco de nós...

"... algo que, talvez, esteja demasiado longe, ou demasiado perto.."
Demasiado perto. Está quase sempre demasiado perto.

Beijos