É hora
O menino dormita no berço
É quase noite
Apaguem!
Céu azul poente
Limpidez profundamente entorpecente
Doce morno
De um sol já dormente
Num verso rimado desnecessariamente
Ping, ping
Está perto!
Chove tristeza
(alegre talvez)
De um céu de feitiço sem nuvens
Apaguem as velas deste bolo!
Sentar
Colher meiguice
De letras saltitantes,
Escondidas nos vértices
Deste livro sem esquinas,
Sentimentos entre páginas,
Intermináveis!
De uma história de embalar
Agita-se a criança
Qual berço de nuvens?
Qual cuidado?
Qual carinho?
Ping, ping, ping
Chora uma rosa
Corre uma alma sem sexo
Sob céu límpido
São lágrimas!
Afinal o céu é salgado
(e eu que pensava que ele sabia a mel
De fim de tarde)
Apaguem as velas desse bolo!
Já escurece
Não tarda acorda o menino
Desfazem-se os tratos
Perde-se o jogo de mais uma vida!
Soa o violino
Embala a princesa
Agita o menino
Pendura a melodia na lua crescente
Cresce a noite
Intenso o mistério
Morre a luz
Adormece a brisa
Grita no céu uma estrela cadente
Beija a alma
(sem sexo ainda)
Esboça um sorriso
Pára a chuva
Apagam-se as velas
Chora o menino
ACORDA!
É hora…
Filipa Castro
1 comentário:
Muito bonito!!
Reflexo dos mistérios e fantasmas que guardas aí dentro...?
Gostava que te libertasses desses mistérios e desses fantasmas, despisses todas essas loucuras que imaginas e vives e fosses apenas tu, só tu, mais segura e madura, pronta a dar-te e a receberes os teus amigos, respeitando-os, a nós e a ti também!
Se me tiver enganado, e se este for apenas o reflexo do teu talento criativo e enquanto actriz, parabéns! conseguiste envolver-me verdadeiramente no poema. Na história que não contas. Na estrutura da prosa. No jogo de palavras repetidas.
beijinhos
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